Liberdade e Caridade Cristã
Todas as Coisas me São Lícitas, Mas Nem Todas Convêm" – Entendimento da Liberdade Cristã em 1 Coríntios 10:22-33
No capítulo 10 da Primeira Epístola aos Coríntios, o apóstolo Paulo aborda uma questão essencial para a vida cristã: o equilíbrio entre liberdade e responsabilidade. Ao ensinar os cristãos de Corinto, Paulo busca clarificar a ideia de que, apesar de terem liberdade em Cristo, nem todas as coisas que podem ser feitas realmente convêm ou edificam. A lição de Paulo é de profundo valor prático, especialmente para os dias de hoje, quando muitos questionam os limites da liberdade em relação à fé.
Paulo começa este trecho com uma pergunta poderosa: "Ou irritaremos o Senhor? Somos nós mais fortes do que ele?" (1 Coríntios 10:22). Ele alerta sobre os perigos de desafiar a Deus com nossas ações, mesmo aquelas que, aos olhos humanos, podem parecer inocentes. Essa advertência está ligada ao chamado à consciência e ao discernimento espiritual.
Uma das passagens mais conhecidas dessa epístola é: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam" (1 Coríntios 10:23). Paulo destaca que, como cristãos, temos liberdade, mas essa liberdade deve ser usada com sabedoria. A pergunta que Paulo nos faz é: "Aquilo que estou fazendo realmente edifica? Está beneficiando o meu próximo?"
Paulo continua enfatizando a necessidade de viver em função dos outros, de buscar o benefício do próximo, e não o nosso próprio. "Ninguém busque o proveito próprio; antes cada um o que é de outrem" (1 Coríntios 10:24). Aqui, ele aponta para um dos princípios fundamentais da vida cristã: o amor ao próximo. A liberdade cristã deve ser exercida de maneira altruísta, com o foco em ajudar e edificar os outros.
Na sequência, Paulo trata da questão do alimento, especificamente da carne vendida no mercado que poderia ter sido sacrificada a ídolos. Ele diz: "Comei de tudo quanto se vende no açougue, sem perguntar nada, por causa da consciência" (1 Coríntios 10:25). A base desse ensinamento está na soberania de Deus sobre toda a criação: "Porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude" (1 Coríntios 10:26). Isso significa que o cristão pode participar das coisas deste mundo, sabendo que todas elas pertencem a Deus.
No entanto, Paulo faz uma ressalva importante: se um irmão de fé ou alguém não-crente disser que a carne foi sacrificada a ídolos, "não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência" (1 Coríntios 10:28). Aqui, Paulo demonstra como o amor ao próximo deve governar nossa liberdade. Embora a carne não tenha em si poder espiritual para nos contaminar, a consciência do outro é importante. Se nossa ação pode causar escândalo ou enfraquecer a fé de alguém, então, por amor, devemos evitar tal ação.
Paulo se preocupa em mostrar que nossa liberdade nunca deve ser usada de forma egoísta ou desrespeitosa à fé dos outros. Mesmo que saibamos que somos livres, devemos considerar a fraqueza dos que estão ao nosso redor, para que não se sintam escandalizados ou levados ao erro. "Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus" (1 Coríntios 10:31). Este é o ponto central: tudo o que fazemos deve ser para glorificar a Deus e fortalecer a fé dos nossos irmãos.
Paulo finaliza seu ensinamento com um conselho prático: "Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus" (1 Coríntios 10:32). Ele próprio dá o exemplo ao afirmar que procura agradar a todos em tudo, buscando sempre o bem-estar dos outros e não o seu próprio, com o propósito de que muitos possam ser salvos (1 Coríntios 10:33).
Aplicando a lição para hoje
Nos dias atuais, essas palavras de Paulo podem ser aplicadas a diversas áreas da vida. Muitas vezes, o cristão moderno se depara com decisões que podem não ser pecaminosas em si mesmas, mas que podem ter um impacto negativo sobre outros. Se pensamos apenas em nossa liberdade, podemos acabar prejudicando a fé de alguém ou colocando barreiras no caminho de alguém que está buscando a Deus.
O exemplo de Paulo nos chama a pensar nas nossas ações de forma coletiva e não individualista. A liberdade que temos em Cristo não nos exime da responsabilidade para com os outros. Pelo contrário, essa liberdade nos chama a servir, amar e edificar o próximo.
Portanto, como filhos de Deus, devemos viver com essa consciência: podemos todas as coisas, mas nem todas as coisas edificam. Somos chamados a usar nossa liberdade com sabedoria, buscando sempre glorificar a Deus e fortalecer a fé dos nossos irmãos. Afinal, nosso maior objetivo não é o nosso próprio proveito, mas a salvação de muitos.
Pastor Itamar Crestani.